Páginas

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Kumare - A Verdadeira História de Um Falso Guru





     Kumare conta a história de um americano descendente de indianos, ator e diretor de cinema,  que começa a pesquisar os "gurus espirituais"  que fixaram residência nos E.U.A. Ele, com sua perspicácia, descobre que não há nada de incomum nessas pessoas.  Sendo assim, para provar que qualquer um pode se tornar um guia espiritual, ele mesmo resolve se tornar um. Encarna um estereótipo deixando a barba crescer, imita o sotaque de sua avó, arruma uma roupa alaranjada, um cajado e duas discípulas. Seguindo o exemplo da maioria dos "gurus", ele proclama uma "filosofia" simplista, tendo como foco a auto-ajuda, inventa exercícios e meditações de yoga que nunca existiram, e com isso consegue rapidamente seus seguidores. Entre eles uma renomada professora de yoga e um doutor em filosofia.
      Esse filme mostra claramente a grande necessidade de idolatria do ser humano. Algumas pessoas já me perguntaram: qual guru você reconhece como verdadeiro? Por que eles sempre se mudam para os Estados Unidos?    A verdade é que nunca conheci nenhum guru verdadeiro. Desconfio de todos aqueles que desejam adulação, mesmo quando esta se esconde sob uma máscara de humildade. Houve pessoas como Vivekananda e Gopi Krishna, por exemplo, que certamente conseguiram um desenvolvimento espiritual admirável, mas esses evitaram veementemente a idolatria de seguidores e nunca foram gurus de ninguém. Se eu não posso ter um contato pessoal com alguém que se diz guru, a única forma de saber se ele é realmente o que diz ser, é através dos seus escritos.  E na maioria dos casos eles são superficiais, simplórios e principalmente: não têm nada de original. Depois de anos de prática e estudo, estou convencido de que existem sim métodos científicos que podem levar uma pessoa à consecução espiritual. E depois que ela consegue isso, certamente terá desenvolvido um dom original que é único(em Thelema isso é chamado de Verdadeira Vontade), o que é muito diferente de emular um conhecimento genérico que é difundido em escala industrial por milhares de pessoas.
     Esses "gurus" geralmente vão para os Estados Unidos porque sabem que lá existe um mercado de yoga e meditação que faz circular 5 bilhões de dólares por ano. E eles, sendo indianos, terão pouquíssima dificuldade em construir o estereótipo do guru ideal e ganhar muito dinheiro sem esforço.
     Kumare é um grande filme! Mostra que enquanto as pessoas continuarem buscando a salvação num messias, ditador, pastor ou guru, enquanto elas não descobrirem o guru  em si mesmas, certamente haverá uma demanda enorme para que os falsos líderes espirituais possam se proliferar por aí indistintamente.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Braking Bad- A Química Além do Bem e do Mal



        Essa semana terminei de assistir ao seriado “Breaking Bad”. Tive uma certa relutância inicial, pois muita gente estava assistindo, e minha tendência nesse caso é sempre evitar seguir o rebanho. No entanto tive uma  intuição de que valeria a pena pagar para ver. Paguei e não me arrependi.
       A história gira em torno de dois personagens principais: Jessie Pinkman e Walter White. Jessie é, um jovem junkie que traficava drogas para sustentar seu vício e também para sobreviver, já que havia sido colocado para fora de casa pela família. Walter é um químico brilhante com mais de 50 anos de idade que trabalhava modestamente como professor de nível secundário enquanto via os donos da empresa da qual ele era cofundador ficarem bilionários.
        Mr. White descobre que está com câncer. Seu cunhado era policial do DEA(Força Administrativa de Narcóticos) . Após assistir na TV a uma apreensão de drogas e dinheiro ligados ao tráfico de metanfetamina, pede a Hank( seu cunhado) para acompanhar uma operação de apreensão  de Cristal. Mr. White vê Jessie Pinkman, que era seu ex-aluno, saindo do local da apreensão.
          Diante da perspectiva da morte iminente e da impossibilidade de deixar sua família numa situação financeira segura, Mr. White propõe a Jessie uma sociedade na qual aquele fabricaria a metanfetamina enquanto este cuidaria da distribuição da droga.
           A trama é muito violenta, no entanto os personagens são levados de uma forma pelo fluxo dos acontecimentos que sobra pouco espaço para julgamentos morais por parte do espectador.
           Mr. White mostra todo o seu talento, não apenas para fabricar a droga com alto nível de pureza, mas também para lidar com o lado sujo e selvagem do tráfico de drogas. Ele não tem escrúpulos ao eliminar inimigos de forma violenta, mente descaradamente para a sua família e chega ao ponto de envenenar um garoto de 8 anos de idade(segundo ele a quantidade de veneno não era suficiente para matar). A pergunta que fica no ar é a seguinte: como explicar esse carisma que permanece inalterado apesar de tudo isso? Por que ainda sentimos por Mr. White essa espécie de ternura vergonhosa?
          Talvez cada um de nós tenha a sua própria resposta para essa pergunta. Acredito que ele, sabendo do seu destino inexorável selado pelo câncer, perdeu completamente o pudor e o medo. Decidiu deliberadamente impor a sua vontade acima da lei a qualquer custo. Isso fica bem claro no último episódio quando confessa a sua esposa Skyler que não fizera tudo aquilo pela família e sim por si mesmo, pois isso o fazia se sentir vivo.
       Jessie, ao contrário de Mr. White, era um garoto com a vida inteira pela frente. Quando conhece sua namorada Jane, mostra a ela alguns desenhos seus. Na terapia em grupo que fazia para se livrar do vício, fala sobre uma caixa de madeira que fez no início da adolescência. Conta detalhadamente todo o processo artístico e técnico da fabricação do objeto. Ao final confessa que trocara a caixa por uma pequena quantidade de maconha . Talvez se sentisse ridicularizado por ter uma vocação incomum que definitivamente seria menosprezada pela família e pela sociedade como sendo algo de menor valor. Num certo momento, Jessie tenta voltar para casa da sua família. Seus pais eram extremamente conservadores e seu irmão(bem mais novo que ele) era um músico prodígio e um aluno exemplar. Os pais acham um cigarro de maconha em casa e Jessie assume a culpa mesmo sabendo que a maconha era do seu irmão. Dessa forma ele é expulso de casa novamente.
        Breaking Bad me surpreendeu em todos os aspectos.  O fato de um episódio nunca começar onde terminou o anterior, prende o espectador de maneira inteligente. Vale ainda ressal tar a atuação espantosa do elenco que é todo de primeira linha! Enfim, posso dizer que já estou sentindo muita falta de Jessie e Mr. White.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Programa do Solano Ribeiro na Rádio Cultura


No dia 8/04 de 2010 foi ao ar um programa do Solano Ribeiro na Rádio Cultura de São Paulo no qual ele falou da nossa banda e tocou algumas músicas.


quarta-feira, 19 de agosto de 2009

domingo, 19 de abril de 2009

Mensagens Pessoais do MSN




Recolhi algumas mensagens pessoais dos meus contatos do MSN. Ficou bem interessante!

1- We shall overcome

2- Se Deus é por nós, não fui eu quem pediu

3- Estou curada! Graças a Deus e minha Nossa Senhora! Amém!

4- Se tempo é dinheiro, a vida é o preço

5- Ving tsun! Kung Fu!

6- Quem souber dominar seus pensamentos, saberá dominar a sua vida

7- Fé!

8- Depois dos 25 é morro abaixo mesmo!

9- Voy haciendo mi planes,voy sabiendo quen soy, voy buscando mi parte, voy logrando el control

10- Libertas Quae Sera Tamem

11- Sou uma mulher motorizada!!!

12- A conversação só é fecunda entre os espíritos dedicados a consolidar a própria perplexidade.

13- Não rapar com as unhas a casca das árvores. esta é a lei. Não somos homens?

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Yoga e Fé

-->

O filósofo romeno Emil Cioran disse certa vez que a diferença fundamental entre a filosofia grega e a indiana é que enquanto aquela busca simplesmente a investigação da verdade, esta se empenha na tarefa de encontrar meios de tornar a existência suportável. Acontece que esse empenho, em muitos casos, toma como base sofismas filosóficos que jamais puderam ser constatados através da análise do mundo fenomênico.
Muitas pessoas que trabalham com yoga, por exemplo, sentem necessidade de ter uma visão otimista da vida e de passar para os alunos essa mesma visão. E, numa tentativa desesperada de fazer do mundo um lugar justo(o que convenhamos é muito difícil!), apegam-se aos mais diversos sofismas: livre-arbítrio, lei do karma, reencarnação, etc... Alguns chegam ao ponto de sugerir que não existe sofrimento injusto e enfatizam o aspecto didático das dores humanas. Isso significa dizer que a criança nordestina que já nasce passando fome, pois a mãe não tem nem leite para alimentá-la, sofre porque está “pagando pelo que fez em encarnações anteriores”. E a pena está sendo aplicada justamente agora, no auge de sua inocência. Convenhamos: esta é uma visão fantasiosa que consegue ser mais cruel e injusta do que a própria realidade. Sendo assim fica a pergunta aos crentes: O que esse recém nascido poderá fazer através do seu “livre-arbítrio”? Qual o “aspecto didático” desse sofrimento?
Pessoalmente, prefiro acreditar que essa criança sofre por falta de consciência de seus progenitores que a colocaram no mundo sem as mínimas condições de sobrevivência. Sofre porque os governantes são negligentes em relação à fome e à miséria. Porque a ganância desenfreada de uns é capaz de construir um império às custas do sofrimento dos mais fracos.
Essa idéia de que “não existe sofrimento injusto” e que “tudo está no seu devido lugar" só interessa aos que estão no poder e querem que o povo se torne cada vez mais passivo e subserviente. Em seu livro: “ A Tradição do Yoga” , Georg Feuerstein diz, a respeito do sistema de castas indiano: “Assim como nós justificamos o os princípios democráticos com a afirmação do valor do indivíduo, o sistema de castas se justifica pela lei do karma: a condição de cada pessoa nessa vida é determinada por seus quereres e ações passadas. Os brâmanes porque praticam a virtude e seguiram a vida espiritual em vidas passadas. Os intocáveis são intocáveis porque não tiveram, no passado, motivação suficiente para aspirar a uma vida superior, ou talvez porque tenham cometido atos muito maus.” Dessa forma, podemos perceber que na Índia, a lei do karma funciona mais ou menos como um curral, um muro artificial construído para separar as castas de forma pacífica.
Posso dizer, sem nenhuma dúvida, que se eu acreditasse em tudo isso, certamente nem precisaria praticar yoga. No entanto venho me empenhando cada vez mais nessa prática a fim de poder encarar a realidade sem necessidade de nenhum subterfúgio, pois como diria o grande filósofo alemão Friedrich Nietzsche: “ O verdadeiro valor de um homem está ligado à quantidade de verdade que ele consegue suportar”.

Flávio Bertola